Você sente desconforto alimentar? Sentimentos de culpa após comer? tem ocorrido vômitos involuntários ou provocados após as alimentações? Tem uma imagem ruim do seu corpo, mesmo as pessoas que te cercam dizendo que você é linda? Pois pode ser que você tenha algum distúrbio alimentar. Mas calma que somente isso não é diagnóstico.
Antes de qualquer coisa, nunca tomem remédio para reduzir sintomas ou usem técnicas mirabolantes até receber um atendimento profissional habilitado a identificar com clareza o que realmente está acontecendo.
Quem pode realmente ajudar você?
Quem pode ajudar nos casos de problemas alimentares: Nutricionista, Psicólogo Clínico e Psiquiatra. Estes são os mais importantes no seguimento para uma boa tomada de decisão. O Psiquiatra vai identificar e receitar medicações para reduzir os sintomas tanto da patologia como de comorbidades [doenças que aparecem junto a principal]. O nutricionista vai indicar a forma correta de alimentação para os seus objetivos sem comprometer sua saúde. Já o Psicólogo vai, junto com você, identificar e dar novos significados às imagens distorcidas [crenças, modelos simbólicos pessoais e sociais, etc.], e principalmente modificar crenças e comportamentos que podem estar engajando no adoecimento.
O que ocasiona?
Entendido os cuidados mencionados, vamos entender o que normalmente ocasiona os transtornos alimentares, vendo esse esqueminha abaixo:

Os fatores que predispõe distúrbios alimentares estão elencados nessa imagem. Vejam os círculos da imagem como uma corrente, onde quanto mais elos você se identificar nessa corrente, mais chances de desenvolver o problema.
Um fato interessante é que patologias afetivas ocorrem em até 98% dos pacientes, sendo o episódio depressivo maior e a distimia os mais comuns e presentes em até 75% dos casos (Guidline, 2000; Herzog et al., 1996). Os sintomas de Ansiedade também podem participar em casos específicos, mas os rebaixamentos de humor são os mais intensamente relatados.
Enquanto profissional me pergunto se os sintomas psiquiátricos são que geram essas patologias alimentares ou se são apenas expressões simbólicas do corpo que sofreu.
Os tipos de transtornos alimentares
Os dois distúrbios mais conhecidos são a Anorexia Nervosa e a Bulimia Nervosa. Mas não são os únicos. Para o DSM-V, o mais atual manual de referência em transtornos mentais, são enumerados também: Transtorno de ruminação, Transtorno alimentar restritivo/evitativo e o Pica. Veja a descrição destes na tabela abaixo:

Falarei somente de Anorexia e Bulimia nervosas. Os demais tipos deixarei pra um outro momento. Assim, tentarei mostrar os pontos que podem ajudar a ter uma boa expectativa de solução do problema, que chamamos de bom prognóstico.
Nos estudos sobre Anorexia Nervosa, constituem fatores mais frequentes de bom prognóstico: 1) Idade menor de início da doença. Tudo indica que quando começa cedo, acaba cedo. 2) Ter menor número de hospitalizações e tempo pequeno de doença antes de internação. Ter poucas vezes hospitalizado obviamente indica que você não deixou complicar tanto a doença para procurar ajuda. (Herzog et al. 1996; Herpertz-Dahlmann et al., 2001; Steinhausen, 2002).
Já a Bulimia Nervosa, na maioria dos trabalhos, tem como fatores de bom prognóstico: 1) Sintomatologia leve a moderada. 2) indicação de tratamento ambulatorial, 3) idade menor de início da doença, 4) motivação para o atendimento e boa rede social de suporte (Herzog et al., 1996; Guideline, 2000; Reas et al., 2000). Como fica claro, os primeiros três itens nos mostra que quanto mais rápido identificar e tratar, melhores os resultados.
O grande desafio é que, ao contrário do que vimos acima, sobre a importância do “identificar e tratar cedo”, os portadores de transtorno alimentar sentem vergonha do problema e a maioria esconde de amigos e familiares. E isso vai piorando cada vez mais o tratamento que virá, necessitando de mais tempo de tratamento ou de mais recursos para um resultado satisfatório. É uma doença onde a pessoa que sofre se relaciona com a própria doença como um motivante para o corpo ideal. Então, na cabeça delas, a doença é uma ajuda para manter ou chegar ao corpo perfeito. Mas no fundo essas pessoas reconhecem que a forma que estão fazendo não é aceitável social e pra si mesmas.
Um ponto importante é a visão de si mesmo e do seu corpo. Muitas vezes, exigências sociais de beleza e aceitabilidade corporais, são introjetada no simbólico representativo do sujeito de forma a comprometer sua relação com alimento. Ou ainda autoestima debilitada por situações idiossincráticas [intimamente pessoais] normalmente sobre tensões emocionais, causando uma visão distorcida de si, acelerando o processo negativo. Em ambos os casos a psicoterapia ainda é o melhor instrumento a ser utilizado.
Muitos teóricos condenam o marketing por explorar o universo feminino. Mas somente fazem isso porque já está instalado no “software” social que as mulheres devem manter um padrão. Mas onde foi inserido esse padrão? No curso total da nossa história biológica e psicossocial. Assim, as propagandas, cremes e técnicas estéticas e a ideia de corpo perfeito perseguem mais as mulheres que os homens. Do mesmo modo, a taxa de ocorrência em homens é de aproximadamente um décimo da que ocorre em mulheres (Ceron-Litvoc, 2008). Ou seja, para cada 10 mulheres com essas patologias, apenas 1 homem a apresenta. Mas não é errado buscar uma beleza que te faça feliz. Só não pode deixar que isso te tire o sono ou qualidade de vida.
Palavras finais
Resumindo, você precisa agir o quanto antes. Mas se você não conseguir lidar ativamente com os sintomas, procure um Psiquiatra, que recomendará uma medicação pra modificar o quadro. Se consegue já consegue lidar mesmo que minimamente, procure um Psicólogo pra entender e modificar as causas internas, externas e contextuais do transtorno. E lidando bem, consulte um Nutricionista para fazer um plano alimentar que seja coerente com seus objetivos e que mantenha você saudável. A frase que deve ficar na dia cabeça “isso tá causando desconforto ou interfere na minha vida íntima e social?” Se a resposta for sim, procure ajuda o quando antes.
Teve alguma dúvida? Pode perguntar!